terça-feira, 27 de agosto de 2013

Coligação imperialista prepara-se para nova vaga de destruição e morte!

Sem qualquer prova que o regime Sírio tenha utilizado "armas químicas" o poder imperialista americano e seus tradicionais aliados, a Inglaterra, França, Turquia e Israel, agora com o "democrata" Obama à cabeça, utilizam os mesmos argumentos e expedientes que Bush utilizou para justificar a sua assassina intervenção militar no Iraque, onde  se provou não haver "armas de destruição maciça".

A agressão militar em preparação contra a Síria, como antes no Kosovo contra a Sérvia, num total desrespeito pela soberania e vontade de que sejam os povos a decidir os seus próprios destinos, revelam que os seus propósitos neste tempo de crise geral porque passa o sistema económico capitalista, pode ir para muito mais além do que atacar a Síria e outros países na região do Médio Oriente e Norte de África, como por exemplo saber até que ponto as outras potências suas concorrentes, a China e a Rússia tomarão partido, ou seja, ao mesmo tempo que agridem a Síria tratam de saber e de medir  forças para uma possível intervenção no Irão, o que pode abrir a porta e desembocar numa nova guerra mundial.

Por outro demonstra a todos os que se indignam e opõem a tais agressões e banditismo, ao desrespeito pelo que se designa de direito internacional, que tal direito no mundo capitalista não passa de uma farsa para enganar os povos e ao mesmo tempo para justificar as guerras de agressão sempre que os interesses da burguesia imperialista sejam colocados em causa, como aconteceu na Sérvia, no Iraque, no Afeganistão, na Líbia e agora na Síria.

Enquanto o capitalismo/imperialismo dominar o mundo e não for varrido da face da Terra, o direito internacional será sempre o direito de quem é mais forte e domina, a prova disto mesmo está na falta de qualquer consequência sobre os crimes bárbaros que têm cometido por qualquer Tribunal de Direito Internacional. Daí a necessidade da nossa solidariedade com o povo sírio e de todos os outros na região, que a nossa oposição à guerra imperialista se  transforme numa luta mais geral  e em guerra aberta contra o próprio capitalismo.


segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Parte 2-Não é uma relíquia marxista mas um guia para a ação

              Uma palavra sobre a revolução

Se hoje muitos nem sequer querem ouvir falar de revolução, isso deve-se com frequência ao facto de os partidos, durante muito tempo, apenas em palavras se declararem revolucionários, sem qualquer correspondência com a prática. Isto levou a que os actuais comunistas, desejando colocar em conformidade o discurso com os actos, considerem que não se pode falar de revolução neste momento. No entanto, há outro modo de alcançar a unidade do discurso com a prática.

Na época em que Lénine escreve havia duas tendências, a oportunista a anarquista, que não compreendiam «a nossa primeira e mais urgente tarefa prática: criar uma organização de revolucionários capaz de dar à luta política energia, firmeza e continuidade». Interroguemo-nos: por que razão é tão raro hoje um comunista afirmar que a construção de um partido revolucionário é a questão mais candente e a tarefa mais urgente? Conclui-se que também hoje há muitos membros de partidos comunistas que, intitulando-se comunistas, não partilham a ideia de que um comunista «deve, acima de tudo, pensar numa organização de revolucionários capazes de dirigir toda a luta emancipadora do proletariado».

Para aqueles que, acima de tudo, pensam e agem neste sentido, o livro Que Fazer? traça um amplo plano de trabalho revolucionário, um plano para a construção de uma organização de partido de combate para realizar esse trabalho.

Admito que este plano foi elaborado numa época histórica totalmente diferente. Sim, é verdade. Mas este plano contém a lógica interna da criação de um partido revolucionário sem a qual é impossível formar um tal partido em qualquer época. Vejamos em que consiste esta lógica.

Uma tal organização deve, acima de tudo, assentar numa firme base teórica:«Sem teoria revolucionária não pode haver também movimento revolucionário». Por isso, hoje, é particularmente oportuno colocar e resolver de modo leninista a questão do trabalho teórico do partido, porquanto sem tal  trabalho o movimento arrisca-se a ser comunista apenas em palavras, o que significa que não pode ter êxito. Assim, Lénine insiste em primeiro lugar na exigência firme de «”uma atenção vigilante ao aspecto teórico do movimento revolucionário do proletariado”».

Citando Engels, Lénine insiste em três formas de luta de classe: a par da luta política e económica, sublinha a importância da luta teórica da qual depende o êxito das duas primeiras. De acordo com a recomendação de Engels, o movimento operário deve travar a luta de forma harmoniosa nas suas três direcções concatenadas e ligadas entre si: teórica, política e económico-prática (resistência
aos capitalistas). Neste assalto, digamos, concêntrico reside a força e a invencibilidade da classe operária.

Todavia, não é na sua continuidade, no seu encadeamento ou sequência: uma antes da outra ou uma depois da outra, que consiste esta concentricidade e concatenação das três formas da luta de classe. Na realidade é sua efectiva ligação interna que constitui a lógica da construção da organização revolucionária, tanto no plano programático como táctico, e garante a unidade da teoria revolucionária coma prática.

Note-se que ao acentuarmos a necessidade e importância do trabalho teórico isso não significa que este trabalho deva ser colocado em primeiro lugar face ao trabalho prático, não significa também que o trabalho prático deva ser adiado até que o trabalho teórico esteja terminado. Uma tal divisão – primeiro um, depois o outro –é um traço característico do socialismo utópico ou daqueles socialistas que não têm uma noção clara do método na ciência social, não dominam o materialismo, «o único método científico que exige que todo o programa seja a formulação exacta do processo real». Tais socialistas consideram que a sua tarefa é criar «modelos» de sociedade (diferente da existente) e procurar vias para a sua introdução. Para eles, naturalmente, «o trabalho prático apenas se torna possível depois de os filósofos geniais terem descoberto e indicado essas “outras vias”; e, inversamente,quando essas vias forem descobertas e indicadas, o trabalho teórico termina e começa o trabalho dos “patriotas” – aqueles que devem orientar a “pátria” pelo novo caminho descoberto. 

A questão coloca-se de uma maneira completamente diferente quando a tarefa dos socialistas consiste em serem os dirigentes ideológicos do proletariado na sua luta real contra inimigos reais, autênticos, que se encontram na via real de um determinado desenvolvimento socioeconómico.

Neste caso, o trabalho teórico e prático fundem-se num único trabalho, que foi tão justamente caracterizado por Liebknecht, veterano da social-democracia alemã, com as palavras:
Studieren, Propagandieren, Organisieren ( Estudar, Propagandear, Organizar)

Não se pode ser um dirigente ideológico sem se fazer o atrás referido trabalho teórico, tal como não se o pode ser sem orientar este trabalho segundo as necessidades da causa, sem propagandear os resultados desta teoria entre os operários e sem os ajudar à sua organização.»

Com esta concepção da tarefa, considera Lénine, os ideólogos do proletariado evitam cair no dogmatismo e no sectarismo. «Não pode haver dogmatismo lá onde o critério supremo e único da doutrina é definido como a sua correspondência com o processo real de desenvolvimento socioeconómico; não pode haver sectarismo quando a tarefa consiste em auxiliar a organização do proletariado e, consequentemente, o papel da “intelligentsia” consiste em tornar inútil a presença
de dirigentes intelectuais especiais.»

Hoje é frequente intitularem-se de comunistas aqueles que reconhecem a teoria marxista, com excepção do seu carácter revolucionário e da teoria da luta de classes. Lénine salienta ninguém pode negar que «a teoria da luta de classes é o centro de gravidade de todo o sistema de concepções de Marx», e que «perder de vista a luta de classes é revelador de uma grosseira incompreensão do
marxismo». Não se pode reconhecer a teoria de Marx excluindo este ponto, uma vez que isso implicaria «refazer a teoria e elaborar a concepção de um outro capitalismo, no qual não houvesse relações antagónicas e luta de classes». Por isso, os comunistas partem da seguinte conclusão desta teoria: «Só há uma saída [da sociedade burguesa] que decorre necessariamente da própria essência do
regime burguês, a saber: a luta de classe do proletariado contra a burguesia», travada à escala nacional até à tomada do poder e à instauração da ditadura do proletariado. Assim, a acção política dos comunistas consiste em contribuir para o desenvolvimento e organização do movimento operário, para a transformação das guerras económicas isoladas em luta de classe consciente, dirigida contra o regime burguês com o objectivo de expropriar os expropriadores e suprimir as normas sociais que assentam na opressão dos trabalhadores. Não se trata de agir no lugar dos operários, em prol deles ou em seu nome mas, sublinhamos mais uma vez, de contribuir para o desenvolvimento e organização da luta consciente dos próprios operários.

Quem não compreende e não reconhece estas teses leninistas ou não é comunista ou terá que elaborar uma nova teoria que substitua o marxismo e demonstre as suas infundadas conclusões

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Parte I -Não é uma relíquia marxista ,mas um guia para a acção"

Devido há extensão do artigo, publicaremos por várias partes.
Por ocasião do centenário da publicação do livro de V.I. Lénine 

Que Fazer? Problemas candentes do nosso movimento.

Por Irina A. Murátova1, é filósofa marxista, docente no Instituto Politécnico de Kiev. O presente artigo fui públicado na revista Markcism e Sovremennost, nº 1-2 (22-23) de 2002, publicação fundada em 1995 pela União dos Comunistas da Ucrania (N. Ed.)

Nos nossos dias ouvimos não raras vezes que os comunistas devem responder aos desafios que são colocados pelo nosso século. Por tais desafios subentende-se habitualmente a alteração das condições históricas e as complexas questões relacionadas com os acontecimentos que conduziram à liquidação do socialismo na URSS e as suas consequências para o mundo no seu conjunto. Pensamos, no entanto, que o principal desafio dos comunistas, hoje, está no legado revolucionário teórico e prático de Lénine, em exclusiva conformidade e concordância com o qual, e aferindo por ele a nossa estratégia e táctica, podermos dar verdadeiramente uma resposta prática comunista às exigências da actualidade. 

De facto, os pungentes trabalhos de polémica e crítica de Lénine dirigem-se aos comunistas de hoje, não em menor, mas até em maior medida do que aos seus contemporâneos, companheiros e adversários. Isto é uma evidência para quem consulta sistematicamente os escritos de Lénine em geral e, em particular, a obra Que Fazer?. 

A brochura de Lénine foi escrita em 1902, num período de divergências, quando a principal atenção da social-democracia russa se concentrava no esclarecimento e resolução de questões partidárias internas. Havia pouco, no período entre 1894 e 1898, a social-democracia alcançara unidade ideológica e foram empreendidas tentativas para alcançar também a unidade na actividade prática, organizativa (fundar o Partido Operário Social-Democrata da Rússia). Nessa altura, a atenção dirigia-se para luta ideológica contra os adversários da social-democracia, por um lado, e para o desenvolvimento do trabalho partidário prático, por outro. Como tarefas via-se o aprofundamento e alargamento do trabalho prático, uma vez que não se levantavam quaisquer obstáculos ao nível dos pontos de vista gerais, princípios e da teoria, dado que na altura ainda não tinham surgido dificuldades na combinação da luta política com a luta económica. Entre a teoria e a prática dos sociais-democratas ainda não havia o antagonismo que surgiu na época do «economismo» (entre os anos de 1897-1898 e 1902), quando se agudizou bruscamente a contradição entre a teoria, programa, objectivos tácticos e a prática da social-democracia. Foi nesta sequência que se tornou necessário realizar uma «clarificação dos pressupostos teóricos do trabalho prático», antes de se encarar novamente o seu aprofundamento e alargamento. A necessidade de uma «”explicação” sistemática (…) com todos os “economistas” sobre todos os pontos capitais» das divergências exigia começar ab ovo (desde o princípio) e analisar as 
dificuldades do ponto de vista da única teoria do socialismo revolucionário, só conhecida da humanidade contemporânea, isto é, o marxismo, o qual uma parte dos sociais-democratas pretendia meter na gaveta com base numa crítica oportunista e burguesa. A falta de princípios e de ideologia acabaria por levar estes últimos a colaborarem com os liberais. A exigência de «”uma atenção vigilante para o aspecto teórico do movimento revolucionário do proletariado”» e o apelo a criticar implacavelmente as tendências anti-revolucionárias haviam sido feitos em 1899, quando a «crise do 
marxismo estava, desde há muito, na ordem do dia».

O desenlace desta luta teórica, e a saída desta crise, consistia na ruptura definitiva da tendência revolucionária com a tendência oportunista. O descuido em relação à teoria dá frutos amargos na prática. Lénine sublinha que «precisamente durante a revolução nos farão falta os resultados da luta teórica contra os críticos para lutar resolutamente contra as suas posições práticas!» Tal é a importância histórica da orientação iskrista-leninista. 

Mas também hoje a crítica leninista aos «críticos» não só não perdeu a sua importância, como se tornou ainda mais actual. Com efeito, partido e organização combativa de revolucionários não são para cada comunista uma e a mesma coisa, com todas as consequências teóricas, políticas e organizativas que daí decorrem. Com frequência ouvem-se vozes entre os membros do partido de que, alegadamente, a revolução não é um assunto actual, de que o carácter revolucionário e de classe na teoria e na prática é hoje descabido. Sobre a ditadura do proletariado, caso não se tenha já renunciado ao princípio, o melhor é omiti-la, não é popular Socialização da propriedade? Também é melhor não a realçarmos, para não assustar, disfarcemos. Não será a nós que Lénine dirigiu a seguinte exigência: «Histórica e logicamente (…) toda a tendência revolucionária, se pensa realmente numa luta séria, não pode prescindir de [uma] organização revolucionária [de combate].» E tal organização só é possível se assentar numa base teórica firme e se se guiar por teoria revolucionária.
 Sem teoria revolucionária não é possível um movimento revolucionário. Por exemplo, Lénine considerou que o grande mérito histórico dos  [Lénine refere-se aqui à organização de combate dos partidários de «A Vontade do Povo»*  foi o facto de terem procurado «integrar todos os descontentes na sua organização e orientá-la para a luta decidida contra a autocracia». «O seu erro», segundo Lénine, «consistiu em se terem baseado numa teoria que, na realidade, não era de modo algum uma teoria revolucionária, e não terem sabido, ou não terem podido, estabelecer um ligação firme entre o seu movimento e a luta de classes no seio da sociedade capitalista em desenvolvimento.»

Não será a nós que é dirigido o reparo de Lénine de que «só a mais grosseira incompreensão do marxismo (ou a sua «compreensão» no sentido do “struvismo”)** pode levar à opinião de que o aparecimento de um movimento operário espontâneo de massas nos exime da obrigação de criar uma organização de revolucionários tão boa como a dos partidários da “Terra e Liberdade”, ou até 
incomparavelmente melhor». O movimento operário, pelo contrário, «impõe-nos precisamente esta obrigação, porque a luta espontânea do proletariado não se transformará na sua verdadeira “luta de classe” enquanto não for dirigida por uma forte organização de revolucionários». «Se começarmos por estabelecer de uma maneira sólida uma forte organização de revolucionários, podemos assegurar a estabilidade do movimento no seu conjunto».

Não assistimos hoje também a essa fuga às responsabilidades que Lénine desmascarou, e que agora ressurge sob o pretexto de que os operários são indiferentes, não lutam, de que não existe um movimento operário minimamente importante (quanto mais revolucionário!), de que o papel histórico da classe operária está a tornar-se duvidoso, e que, portanto, não é tempo para organizações 
revolucionárias? Não serão os comunistas que pensam deste modo, consciente ou inconscientemente, porta-vozes das ideias que Lénine classificou sem rodeios de pequeno-burguesas, insistindo incessantemente na necessidade de romper com elas? Poder-se-á apresentar tais ideias a coberto do estandarte da militância comunista? 
Lénine, ao exigir a ruptura definitiva com as ideias pequeno-burguesas sobre o socialismo, sublinhou o seu carácter «INCONTESTAVELMENTE reaccionário, por quanto se apresentam na qualidade de teorias socialistas».

* «A Vontade do Povo» («Народная воля») foi uma organização revolucionária populista,
surgida em 1879 da cisão do partido «Terra e Liberdade» («Земля и воля»), que adoptou
métodos violentos de luta para forçar o regime a realizar reformas democráticas. (N. Ed.)


** O «struvismo» (Piotr Berngárdovitch Struve – 1870-1944) ou «marxismo legal» foi
uma tendência da burguesia liberal na Rússia dos anos 1890-1900 que, na aparência,
reconhecia o marxismo, mas expurgado da sua essência revolucionária e adaptado às suas
necessidades. Mais tarde foi a base teórica do «economismo» que, por sua vez, reduzia a
acção do proletariado a revindicações de carácter económico, reservando à burguesia liberal
a luta política.

« As teorias destes ideólogos da pequena burguesia, que se apresentam na qualidade de representantes dos interesses dos trabalhadores, são abertamente reaccionárias», neste ponto Lénine é categórico. «Dissimulam o antagonismo das actuais relações socioeconómicas (…), raciocinando como se a situação pudesse ser remediada com medidas de ordem geral, destinadas a satisfazer todos e a assegurar o “crescimento”, a “melhoria”, etc., como se fosse possível conciliar e unir. São reaccionários porque apresentam o nosso Estado como algo que está acima das classes e seria por isso apropriado e capaz de prestar uma ajuda minimamente séria e honesta à população explorada. «São reaccionários, por fim, porque não compreendem em absoluto a necessidade da luta, de uma luta encarniçada dos próprios trabalhadores para a sua emancipação. (…) Ao ouvi-los parece que seriam capazes de arranjar tudo por si próprios. Os operários podem ficar tranquilos.»«Romper RESOLUTAMENTE e DEFINITIVAMENTE com todas as ideias e teorias pequeno-burguesas – eis a principal lição preciosa», que Lénine exige que seja retirada da sua campanha contra os representantes de uma das tendências deste tipo de ideias socialistas pequeno-burguesas.

O marxismo «legal», oficial, burguês não é um fenómeno exclusivo do nosso tempo. Se confrontarmos as ideias expostas de forma tão completa e definida por Lénine com as ideias actuais de socialismo, não só entre socialistas como também entre comunistas, convencemo-nos do seu carácter pequeno-burguês (de pequenos proprietários), de que pertencem ao mesmo tipo de ideias com as quais Lénine 
insiste na necessidade de romper. E devemos insistir nisto tanto quanto já naquele tempo estas ideias e correspondente táctica demonstraram que «na falta de uma crítica materialista das instituições políticas, e sem uma compreensão do carácter de classe do Estado contemporâneo, do radicalismo político ao oportunismo político não é mais que um passo».

Porém, não podemos dizer que a maioria dos comunistas actuais debate os problemas candentes do seu movimento com a mesma paixão e frontalidade com que Lénine o faz neste notável livro que, no seu tempo, levou para o debate aberto entre correligionários as questões mais candentes do movimento operário. Lénine qualificou de surpreendente miopia a atitude daqueles que encaravam a polémica e o debate como algo «inconveniente». Para informação de todos os adversários da clareza, da intransigência, do ardor da polémica, etc., refira-se que Lénine colocou como epígrafe na capa do seu livro um extracto de uma carta de Lassalle a Marx, de 24 de Junho de 1852, onde se sublinha algo que a lógica burocrática não será sequer capaz de suspeitar, nomeadamente: «A luta de partido dá ao Partido força e vitalidade; a maior prova da fraqueza de um partido é o seu amorfismo e o esbatimento de fronteiras nitidamente delimitadas; o Partido reforça-se depurando-se».

A análise de Lénine das principais divergências do movimento serviu precisamente para delimitar fronteiras entre os partidos da revolução social e os partidos democráticos das reformas sociais, bem como contribuiu para intensificar a luta da social-democracia revolucionária contra a burguesia social-reformadora. O trabalho Que Fazer? revelou a profunda diferença qualitativa entre as ideias dos 
democratas e dos socialistas, ajudou a tomar consciência do abismo que as separa, permitiu compreender a inevitabilidade e a necessidade imperiosa da ruptura total e definitiva com as ideias dos democratas. Permitiu compreender, com a mesma clareza, que «socialismo é o protesto e a luta contra a exploração dos trabalhadores, luta orientada para a supressão completa desta exploração», e 
que remediar e remendar a sociedade burguesa actual, em vez de a combater, é a principal concepção teórica dos democratas que permanecem no campo das relações sociais vigentes, que vêem no órgão do Estado, que se desenvolveu no quadro desta sociedade burguesa e que protege os interesses das classes nela dominantes, o instrumento para as reformas. Por fim, o livro contribuiu para o rompimento definitivo da corrente revolucionária com a corrente oportunista, de que atrás se falou. «Infinita humilhação e auto-aviltamento do socialismo perante o mundo inteiro, corrupção da consciência socialista das massas operárias – a única base que nos pode assegurar a vitória», foi assim que Lénine qualificou as acções dos partidários europeus dos «partidos das reformas», que concebem a democracia como a eliminação da dominação de classe e a colaboração de classes, e introduzem 
no socialismo elementos e ideias burguesas.

Fechando os olhos ao antagonismo entre os interesses da classe operária e os interesses da burguesia, a corrente oportunista no socialismo e no proletariado corrompeu a consciência socialista, banalizando o marxismo, propagando a teoria da amenização das contradições sociais, declarando absurda a ideia da revolução social e da ditadura do proletariado, reduzindo o movimento operário e a luta de classes ao trade-unionismo estreito e à luta «realista» por pequenas reformas graduais. Isto «era exactamente o mesmo que se a democracia burguesa negasse o direito do socialismo à independência e, por consequência, o seu direito à existência; na prática isto significava tender a converter o nascente movimento operário em apêndice dos liberais».19 A ruptura era necessária e inevitável, de outro modo o socialismo revolucionário teria desaparecido. 

No movimento comunista actual está de novo colocada na ordem do dia a necessidade de uma delimitação nítida das fronteiras da corrente marxista revolucionária. O conteúdo da actividade de muitos partidos que se chamam comunistas não corresponde a este nome. Isto é particularmente alarmante numa situação em que os trabalhadores manifestam uma importante confiança nos comunistas, apesar de tudo: apesar das dúvidas que suscitam alguns líderes partidários, apesar da inconsequência de muitas decisões e acções desses partidos. Justificar esta confiança, conferir à actividade destes partidos um carácter e conteúdo realmente comunistas, ser comunista na prática e não só no nome – construir de facto uma organização revolucionária – eis a tarefa que se vai divisando ante os comunistas no decurso dos acontecimentos. 

Hoje estão de novo em marcha as ideias e teorias que «dissimulam o antagonismo das actuais relações socioeconómicas», apresentando-as «como se a situação pudesse ser remediada com medidas de ordem geral, destinadas a satisfazer todos e a assegurar o “crescimento”, a “melhoria”, etc.», como se fosse possível conciliar e unir todos e chegar a acordo sobre tudo. Neste sentido ganha importância a principal «lição útil» que Lenine exige que se retire da crítica destas concepções, nomeadamente: os comunistas devem «Romper RESOLUTAMENTE e DEFINITIVAMENTE com todas as ideias e teorias pequeno-burguesas», não admitindo que renasçam sob a bandeira do partido comunista; devem contraporlhes uma visão directa sobre a realidade e sobre as relações socioeconómicas e reconhecer abertamente que não há outro caminho para o socialismo senão através do movimento operário. 

Numa situação em que as questões controversas do movimento comunista não só não são levantadas, mas com frequência silenciadas, em que se procura abafar, dissimular, aplanar ou mesmo ocultar as divergências sobre questões de princípio, conservando-se uma unanimidade amorfa e indiferente, o livro de Lénine actua como um crítico intransigente, que exige uma «explicação sistemática (…) sobre 
todos os pontos capitais (…) das divergências» entre comunistas, coloca questões incómodas e dá respostas objectivas. Mostra a necessidade de «um trabalho mais corajoso, mais amplo, mais unificado, mais centralizado»,20 na altura feito em torno do jornal Iskra, que agora urge fazer no movimento comunista actual. 

Também hoje este livro – um combatente provado, um polemista experiente, um organizador colectivo, um propagandista e um agitador – presta um serviço à causa da formação de uma organização revolucionária. É apenas preciso estudá-lo e armarmo-nos com as suas teses de princípio. 

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

De "salvação nacional" ou de salvação da burguesia e do sistema de exploração capitalista?

A recente remodelação governamental ao contrário do que dizem os serventuários  da burguesia e do capitalismo não se deveu às tricas ocorridas no seio do governo entre P.Coelho e Portas sobre este ou aquele ministro a empossar devido à súbita e inesperada demissão de V.Gaspar, dado que todos eles concordam com o objectivo das medidas que em conjunto com C.Silva e a tróika imperialista estão a impôr à classe trabalhadora e aos mais pobres.

A razão da dita crise, resulta do crescente protesto social que vem isolando e limitando de certa maneira o espaço de manobra do governo; por outro o aprofundamento  da crise geral do capitalismo e em particular na U.E., com a entrada em estagnação ou mesmo recessão da maior parte dos países do qual três quartos das exportações portuguesas dependem e que não só impede o crescimento económico, como ao  mesmo tempo obriga a novos resgates e ao agravamento constante da divida soberana  que ao longo dos tempos foi contraída para proveito da burguesia parasitária, que se agravou com a entrada na UE onde esta a troco dos subsídios, encerrou grande parte da grande  e média industria, a agricultura já de si fraca (pagava-se para não semear) o mesmo aconteceu às pescas (abatendo-se os navios) acabando por restar o  velho e retrógado sistema produtivo nacional assente em 80 e tal % em pequenas e médias empresas sem qualquer capacidade para recuperar o seu atraso, quanto mais para poder competir com os países mais desenvolvidos.

Daí que perante tal situação o governoPSD/CDS remodelado, C.Silva e a tróika imperialista  entendam que tal quadro só poderá ser ultrapassado se se aprofundar continuamente a ofensiva capitalista em curso, até que os custos de produção se tornem competitivos, ou seja continuar a reduzir salários e os direitos laborais e sociais, até que os custos de produção se tornem competitivos e possa haver recuperação económica, claro está que não vai haver qualquer retorno social, a competitividade económica só se poderá manter, mantendo os salarios baixos e sem qualquer direito social.

Só assim se torna claro o apelo de C.Silva aos partidos do chamado arco da governação capitalista, que assinaram o "memorando", diz C.Silva: "É necessário um compromisso com uma ampla base social de apoio, que se comprometa com o programa de ajustamento até que a recuperação e o crescimento seja um facto, não podemos correr o risco de perder tudo quanto foi conseguido nestes dois anos, devemos de continuar a pedalar até atingir o topo da montanha" C.Silva em 1-8-2013 - Ou seja custe o que custar.

(Tais ganhos de que C.Silva e o governo  se referem são aqueles que  resulta da politica de expropriação do povo, tais como: Dois anos de terror e aprofundamento da miséria social, onde perto de três milhões de pessoas vivem abaixo dos limites que eles consideram de pobreza, das quais 800 mil famílias vivem em pobreza absoluta, passando fome diáriamente, ( segundo dados do INE) é o milhão e meio de desempregados, 43% da juventude, onde grande parte está formada e custou ao erário público milhões de euros, não tem trabalho e é aconselhada a emigrar; aumentos brutais dos impostos, roubando quase metade dos salários à camada intermédia e baixa do assalariato; redução brutal dos salários e dos direitos laborais e sociais, cortes drásticos na saúde, na educação na segurança social; a Lei do Arrendamento, "elaborada por A.Cristas do CDS" que já colocou na rua e vai a continuar a despejar centenas, senão milhares de famílias idosas, caso não seja revogada. etc.etc.)

Aliança esta proposta ao PS, que só não produziu os seus efeitos desejáveis nas negociações em termos de uma coligação governamental como exigia o grande capital financeiro e económico e a tróika imperialista, porque A.J.Seguro foi colocado perante uma enorme pressão no seio do seu partido, como pelas posições de confrontamento que  foi obrigado a tomar em virtude da politica altamente reacionária do governo, no entanto não deixou de aceitar alguns compromissos que salvaguardam as medidas impostas e a impôr. Na parte final da intervenção de J.A.Seguro no debate da Moção de confiança do governo, ficou claro o seu apoio a uma primeira medida dsete governo e que faz parte de tal compromisso, que tem a ver com a descida do IRC, medida esta que visa particularmente defender os interesses  dos grandes  grupos financeiros e económicos e acrescenta na parte final da sua intervenção, que não é da oposição nem do governo, é por Portugal, o que para bom entendedor meia palavra basta para entender.

 
Por seu lado a oposição mais à esquerda do quadro parlamentar capitalista não consegue ultrapassar o seu velho compromisso conciliatório para justificar a sua acção politica, verbaliza  contra a politica de austeridade e alega que a actual crise governamental é a prova de que este governo está "moribundo", quando na verdade o governo sai reforçado nas suas próprias hostes e nos compromissos realizados com o PS e a UGT e a prova disso mesmo está nas medidas que recentemente fizeram aprovar no parlamento de aumento do horário de trabalho de 35 para 40horas semanais e a requalificação  dos funcionários públicos e em sede de concertação social a redução dos contratos a prazo para um ano, medida esta que tem como intenção fazer baixar ainda mais os salários, bem como a passagem das indemnizações por despedimento para doze dias e o que por aí vem como resultado dos cortes no valor de 4.700 milhões de euros no próximo OGE.

Em vez de se opôrem à ofensiva capitalista do ponto de vista anti-capitalista, opõem-se num ponto de vista da esquerda do sistema capitalista, querendo provar que podem ser melhores gestores do capitalismo do que os próprios gestores capitalistas, ou seja as suas criticas aos partidos da direita e às politicas de direita, não colocam o sistema capitalista em causa, as suas propostas politicas, tais como: " A "renegociação da divida", o "relançamento do mercado interno", no qual defendem medidas de apoio aos "pequenos e médios capitalistas", o "aumento da produção" enquadram-se numa politica de salvação da economia capitalista, tal politica não só não serve os interesses dos trabalhadores, como aumenta a exploração e não coloca fim às medidas de austeridade, anti-laborais e anti-sociais, procuram apenas suavizá-las, criando assim a falsa hipote-se de que é possível sair da crise, como evitar futuras crises.

Ao contrário destas forças, nós afirmamos que a derrota desta politica reacionária,  não está na exigência de eleições antecipadas, nem estas garantem ao povo o que quer que seja (o que não quer dizer que nos oponhamos a elas) mas sim na luta de resistência do movimento laboral e popular, nos locais de trabalho e de habitação, promovendo manifestações e greves  contra esta ofensiva capitalista, que eleve a consciência dos trabalhadores e do povo contra a exploração pela defesa dos seus interesses e que aos poucos faça alterar a correlação de forças no sentido de fazer recuar e derrotar este governo e reduzir o campo de manobra a qualquer outro que o substitua e que abra uma saída de bem estar para o povo.