terça-feira, 26 de julho de 2011

A guerra de Israel contra as crianças: 1200 presas num só ano



Jonathan Cook [*]
A polícia israelita tem sido criticada pelo tratamento infligido a centenas de crianças palestinas, algumas das quais com apenas sete anos, presas e sujeitas a interrogatório por suspeita de arremesso de pedras em Jerusalém Leste.


Segundo estatísticas policiais recolhidas pela ACRI (Associação Israelita dos Direitos Humanos) no ano passado foram abertas investigações criminais, em Jerusalém, a mais de 1200 menores palestinos acusados de arremesso de pedras. Este número é perto do dobro do número de crianças presas no mesmo ano no território Palestino mais alargado da Faixa Ocidental.

A maior parte das detenções ocorreu no distrito de Silwan, próximo da Cidade Velha de Jerusalém, onde 350 colonos judeus extremistas instalaram vários enclaves ilegais, fortemente guardados, no meio de 50.000 residentes Palestinos.

No final do mês passado, e numa atitude que reflete a crescente indignação face às prisões em Silwan, foi noticiado que uma multidão impediu a polícia de prender Adam Rishek, uma criança de sete anos acusada de arremessar pedras. Mais tarde os seus pais apresentaram um protesto acusando os policiais de tê-la agredida.

A tensão entre residentes e colonos tem aumentado constantemente desde que o município de Jerusalém revelou, em Fevereiro, um plano de demolição de dezenas de habitações Palestinas no bairro Bustan com vista à expansão de um parque arqueológico de temática bíblica gerido pela Elad, uma organização de colonos.
No momento o plano está suspenso, em resultado de pressão dos EUA sobre o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu.

Fakhri Abu Diab, um dirigente da comunidade local, alertou para que os constantes confrontos entre os jovens de Silwan e os colonos, que alguns designam como “intifada das pedras”, poderiam desencadear um levante geral palestino.

“As nossas crianças estão sendo sacrificadas em nome do objetivo dos colonos de se apossarem da nossa comunidade”, disse.
Num relatório recente intitulado “Espaço Inseguro”, a ACRI concluiu que, na repressão sobre o arremesso de pedras, a polícia está ignorando os direitos legítimos das crianças e deixando muitos menores profundamente traumatizados.

Testemunhos recolhidos por grupos defensores dos direitos revelam um padrão comum de prisões de crianças em operações que decorrem em altas horas da noite, sendo algemadas e interrogadas durante horas sem a presença quer dos pais quer de advogado. Em muitos casos as crianças têm relatado que foram alvo de ameaças e de violência física.

No mês passado, 60 peritos israelitas - juristas e especialistas em cuidados infantis - incluindo Yehudit Karp, antigo procurador-geral adjunto, escreveram a Netanyahu condenando o comportamento da polícia.“Causam particular preocupação”, escreveram, “os testemunhos de crianças com idades inferiores a 12 anos, a idade mínima legal para responsabilização criminal, que foram sujeitas a inquérito e que não foram poupadas a formas violentas e agressivas de interrogatório”.

Ao contrário do que sucede na Faixa Ocidental, sujeita a um regime jurídico militar, supor-se-ia que as crianças suspeitas de arremesso de pedras em Jerusalém Leste fossem tratadas de acordo com a lei criminal israelita.
Israel anexou Jerusalém Leste depois da guerra dos Seis Dias, em 1967, violando a lei internacional, e seus 250.000 habitantes Palestinos são tratados como residentes permanentes de Israel.

Os menores, por definição qualquer pessoa com idade inferior a 18 anos, deveriam ser interrogados por pessoal especialmente formado e apenas no decurso do dia. As crianças devem ter a possibilidade de consultar um advogado e um familiar deve estar presente.

Ronit Sela, uma porta-voz da ACRI, afirmou que a sua organização ficara “chocada” com o número de crianças presas em Jerusalém Leste no decurso dos últimos meses, frequentemente por policiais à paisana.“Ouvimos muitos testemunhos de crianças que descrevem terríveis experiências de violência, tanto no momento da prisão como no interrogatório posterior”.

Muslim, de 10 anos, vive no bairro Bustan numa casa cuja demolição foi ordenada pelas autoridades israelitas. O seu caso foi incluído no relatório da ACRI e, em uma entrevista, ele afirmou que tinha sido preso quatro vezes em 2010, embora tivesse idade inferior ao limite mínimo para responsabilização criminal. Da última vez, em Outubro, foi apanhado na rua por policiais a paisana que saltaram de uma van.

“Um dos homens agarrou-me por trás e começou a estrangular-me. O segundo agarrou a minha camisa e rasgou-a pelas costas, e o terceiro torceu-me as mãos atrás das costas e amarrou-as com tiras de plástico. “Quem atirou pedras?” perguntou um deles. “Não sei”, respondi. Começou a me bater na cabeça e eu gritei de dor”.

Muslim foi levado preso e libertado seis horas mais tarde. Um médico local relatou que o rapaz tinha os joelhos feridos e ensanguentados e inchaços em várias partes do corpo.

O pai de Muslim, que tem dois filhos na prisão, disse que desde então o filho acorda frequentemente em pânico e perdeu a capacidade de concentração nos estudos escolares. “Estes acontecimentos arrasaram-no”.

Ronit Sela disse que o número de prisões em Silwan aumentou significativamente desde setembro, quando um segurança privado de um colonato matou um Palestino, Samer Sirhan, e feriu dois outros.Confrontos entre os colonos e jovens de Silwan ganharam maior visibilidade em outubro, quando David Beeri, diretor da organização de colonos Elad, foi filmado quando procurava atropelar dois rapazes que apedrejavam o seu carro.

Um deles, Amran Mansour, de 12 anos, que foi lançado por cima da viatura pelo impacto, foi preso pouco tempo depois, no fim da noite, em casa de sua família.

Ainda em outubro, nove deputados israelitas da direita queixaram-se de que o micro-ônibus em que se deslocavam foi apedrejado. Eles iam prestar solidariedade a Beit Yonatan, uma grande habitação na zona controlada pelos colonos em Silwan. Os tribunais israelitas ordenaram que essa habitação fosse demolida, mas o presidente do município de Jerusalém, Nir Barkat, recusou-se a cumprir a ordem.

Na véspera do ataque, Yitzhak Aharonovitch, ministro da segurança pública, avisou: “Vamos fazer com que o arremesso de pedras cesse usando a força secreta ou ostensiva, e vamos restabelecer a tranquilidade”.

No mês passado a polícia anunciou que passará a utilizar com maior frequência a detenção domiciliária de crianças e que passarão a ser impostas aos pais multas que poderão atingir até $ 1.400 dólares.

Um grupo israelita de defesa dos direitos humanos, B’Tselem, relatou o caso de “A.S”, de 12 anos, preso às 3 da madrugada e levado a interrogatório.

“Puseram-me de joelhos voltado para a parede. De cada vez que me movia um homem a paisana batia-me no pescoço com a mão…O homem mandou prostrar-me ao chão e pedir perdão, mas eu me recusei e disse-lhe que apenas me ajoelho perante Alá. Entretanto sentia dores intensas nos pés e nas pernas. Senti um violento temor e comecei a tremer”.

B’Tselem declara: “É difícil conceber que as forças de segurança atuassem de forma semelhante contra menores judeus”.

Micky Rosenfeld, um porta-voz da polícia, negou que a polícia tivesse violado os direitos das crianças. E acrescentou: “Cabe aos pais a responsabilidade de fazer parar o comportamento criminoso dos seus filhos”.

Jawad Siyam, activista da comunidade local de Silwan, afirmou que o objetivo das prisões e o recrudescimento da atividade dos colonos são “tornar a nossa vida insuportável e expulsar-nos da área”.

Os 60 peritos que escreveram a Netanyahu advertiram que a agressão sobre as crianças conduz a “distúrbios pós-traumáticos como pesadelos, insônia, descontrole urinário e temor permanente de policiais e soldados”. Sublinharam também que as crianças sujeitas a prolongada detenção domiciliar estavam sendo privadas do seu direito à educação.

No ano passado [2009] o Comitê das Nações Unidas Contra a Tortura exprimiu “profunda preocupação” face à forma como Israel trata os menores Palestinos, denunciando que Israel viola a Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança, da qual é subscritor.

No decurso dos últimos 12 meses, a Defesa Internacional das Crianças tem fornecido à ONU dados acerca de mais de 100 crianças que afirmam terem sido violentadas física e psicologicamente sob custódia militar.

[*] Jonathan Cook - é escritor e jornalista residente em Nazaré, Israel
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O original encontra-se em Counterpunch, (13.12.2010): http://www.counterpunch.org/cook12132010.html
Esta página encontra-se em http://www.cecac.org.br/
13/julho/2011

terça-feira, 5 de julho de 2011

Proclamação da PAME - Frente Militante de Todos os Trabalhadores - Grécia

Trabalhadores e trabalhadoras – Jovens


Não ajoelharemos - Não deixaremos cair os braços na greve geral pan-helénica nos dias em que o memorando antipopular será discutido no parlamento.


Temos de “deixar vazias” todas as fábricas, locais de construção, escritórios, lojas, portos, barcos, tudo.
· Para que a condenação das medidas anti-populares seja geral e em massa e a nossa mensagem à plutocracia, ao governo e à troika seja forte.


· Para que esta greve seja o começo do cancelamento destas medidas bárbaras através da luta, mesmo que a maioria governamental, possivelmente em conjunto com os outros partidos ou deputados, as votem.

· Temos de entrar rapidamente na luta para tornar mais próximo o dia em que sejamos para sempre libertados da exploração de classe e da opressão. Só assim nos poderemos salvar das bancarrotas, crises, memorandos,especuladores e desemprego.

Camaradas

O quadro em que ocorre e a duração de 48 horas desta greve – a sua forma e as suas reivindicações – tornam-na uma das mais importantes mobilizações das últimas décadas no nosso país.

2 O seu sucesso será uma poderosa mensagem em todos os sentidos:· Que não estamos dispostos a comprometer-nos com o pesadelo que nos prepararam.

· Que está contra eles não um “movimento das praças”, um movimento passivo e domesticado, geral e abstrato, um movimento de alguns “indignados”, mas um movimento sindical de classe que está organizado e forte em todos os locais de trabalho, em todos os bairros e povoações, e é capaz de determinar os acontecimentos a favor dos interesses populares.

Camaradas
NÃO DEVEMOS TER ILUSÕES – TEMOS DE AGIR AGORA
Esta crise é profunda e o seu desenvolvimento agrava-la-á. Não é o resultado de roubos ou maus gestores; não é uma crise provocada pela dívida. Isso é o sintoma, não a doença.

É uma crise de sobreacumulação de capital e de sobreprodução. É uma crise do capitalismo. É uma crise que diz respeito não só à Grécia, mas a todos os países. É por isso que o assalto aos direitos dos trabalhadores e do povo não tem fim.

A propriedade privada dos meios de produção está a aumentar o seu conflito com as necessidades do povo. A propriedade privada acumula enormes quantidades de capital que encontram dificuldade em ser investidos e realizados; produz imensas quantidades de mercadorias que não podem ser vendidas, apesar de as necessidadesdo povo não estarem satisfeitas.

A saída para a crise em benefício do capital implica a destruição dos excedentes, o esmagamento das conquistas e dos direitos dos trabalhadores tornando mesmo a força de trabalho mais barata, ao mais baixo nível possível, a exploração mais brutal e o desemprego em massa.

Contudo, há uma outra saída em benefício dos trabalhadores e das camadas populares. Implica uma mudança na relação de forças, o poder dos trabalhadores e uma economia popular.

SEM MEDO NEM COMPROMISSOSEstá na hora de os trabalhadores rejeitarem falsos dilemas. A dívida não foi criada pelo povo nem em seu benefício. Os défices nas contas públicas e nos bolsos das famílias são os enormes lucros nos cofres dos capitalistas. Eles procuram travar, obstruir os processos positivos que se desenvolvem entre o povo.

O POVO NÃO DEVE NADA A NINGUÉM – A PLUTOCRACIA E OS PARTIDOSBURGUESES É QUE DEVEM AO POVO· Nós não queremos apenas regatear a retirada do memorando. Lutamos contra as políticas que dão origem aos memorandos.

· Não queremos apenas que o PASOK (socialdemocratas) se vá embora e que mude o administrador. Queremos acabar com o capital e com as multinacionais cujos lucros são geridos pelos vários administradores.

3 O capitalismo não se tornou humano, quaisquer que possam ser os administradores do capitalismo na Grécia e na Europa. Será cada vez mais brutal para as camadas populares.

Não devemos cair na ratoeira dos referendos. Isso é causar desorientação, é uma caricatura da pretensa “democracia direta”. Na essência, o que eles procuram fazer é implantar um sistema reacionário e uma política antipopular com a concordância do povo.

PODEMOS MUDAR A SITUAÇÃO A NOSSO FAVOR

É um momento de responsabilidade para todos nós e especialmente para aqueles que reforçaram o PASOK (socialdemocratas), a ND (conservadores) e os partidos que apoiam a EU, através do seu voto e da sua atuação.

DIRIGIMO-NOS a todos os homens e mulheres que acreditaram no PASOK e na ND e lhes deram o poder e os seus mecanismos no movimento sindical. Apelamos a que dêem o passo hoje. Apelamos a que se juntem à luta comum para travar a humilhação do povo. A assumir a nossa própria perspetiva.

· Temos de tornar os nossos sindicatos autênticas organizações de massas; temos de nos juntar a eles para os transformar em baluartes da luta, em praças-fortes de resistência contra os patrões, contra os capitalistas e o sistema burguês como um todo. Todos os trabalhadores se devem organizar em massa dentro dos sindicatos. Os baluartes fundamentais da organização são as assembleias de trabalhadores e empregados na fábrica, na empresa, no sindicato.

· As ações diárias dos trabalhadores devem partir do sindicato, do processo coletivo de assembleias-gerais.

· Temos de correr com os sindicatos dos patrões, os comprometidos, a aristocracia operária que é o aliado e o braço direito do capital. Nos nossos sindicatos temos de puxar pelas pessoas lutadoras que são honestas ededicadas aos interesses da classe trabalhadora.

· Temos de enfraquecer o PASOK e a ND e todos os partidos que são os administradores dos interesses capitalistas e defensores dos blocos imperialistas e de mecanismos como a União Europeia e a NATO. Temos de melhorar a relação de forças a nosso favor e contra eles.

· Temos de construir a nossa própria frente social contra o esforço deles para se unirem na tomada de medidas para nos retirar tudo e nos pôr de joelhos por muitas décadas.

O futuro dos nossos filhos e o nosso próprio futuro não podem ser determinados pela vontade dos nossos exploradores. Temos de ganhar forças para impor os nossos próprios interesses.

COM A PODEROSA PAME E A ALIANÇA SOCIAL PODEMOS CONSEGUI-LO