sábado, 21 de agosto de 2010

F.Engels: Do Socialismo Utópico ao Socialismo Ciêntifico



A concepção materialista da história parte da tese de que a produção, e com ela a troca dos produtos, é a base de toda a ordem social; de que em todas as sociedades que desfilam pela história, a distribuição dos produtos, e juntamente com ela a divisão social dos homens em classes ou camadas, é determinada pelo que a sociedade produz e como produz e pelo modo de trocar os seus produtos. De conformidade com isso, as causas profundas de todas as transformações sociais e de todas as revoluções políticas não devem ser procuradas nas cabeças dos homens nem na idéia que eles façam da verdade eterna ou da eterna justiça, mas nas transformações operadas no modo de produção e de troca; devem ser procuradas não na filosofia, mas na economia da época de que se trata. Quando nasce nos homens a consciência de que as instituições sociais vigentes são irracionais e injustas, de que a razão se converteu em insensatez e a bênção em praga, isso não é mais que um indício de que nos métodos de produção e nas formas de distribuição produziram-se silenciosamente transformações com as quais já não concorda a ordem social, talhada segundo o padrão de condições econômicas anteriores. E assim já está dito que nas novas relações de produção têm forçosamente que conter-se - mais ou menos desenvolvidos - os meios necessários para pôr termo aos males descobertos. E esses meios não devem ser tirados da cabeça de ninguém, mas a cabeça é que tem de descobrí-los nos fatos materiais da produção, tal e qual a realidade os oferece.


Qual é, nesse aspecto, a posição do socialismo moderno?
A ordem social vigente - verdade reconhecida hoje por quase todo o mundo - é obra das classes dominantes dos tempos modernos, da burguesia. O modo de produção característico da burguesia, ao qual desde Marx se dá o nome de modo capitalista de produção, era incompatível com os privilégios locais e dos estados, como o era com os vínculos interpessoais da ordem feudal. A burguesia lançou por terra a ordem feudal e levantou sobre suas ruínas o regime da sociedade burguesa, o império da livre concorrência, da liberdade de domicílio, da igualdade de direitos dos possuidores de mercadorias, e tantas outras maravilhas burguesas. Agora já podia desenvolver-se livremente o modo capitalista de produção. E ao chegarem o vapor e a nova maquinaria ferramental, transformando a antiga manufactura na grande indústria, as forças produtivas criadas e postas em movimento sob o comando da burguesia desenvolveram-se com uma velocidade inaudita e em proporções até então desconhecidas. Mas, do mesmo modo que em seu tempo a manufactura e o artesanato, que continuava desenvolvendo-se sob sua influência, se chocavam com os entraves feudais das corporações, a grande indústria, ao chegar a um nível de desenvolvimento mais alto, já não cabe no estreito marco em que é contida pelo modo de produção capitalista. As novas forças produtivas transbordam já da forma burguesa em que são exploradas, e esse conflito entre as forças produtivas e o modo de produção não é precisamente nascido na cabeça do homem - algo assim como o conflito entre o pecado original do homem e a Justiça divina - mas tem suas raízes nos factos, na realidade objectiva, fora de nós, independentemente da vontade ou da actividade dos próprios homens que o provocaram. O socialismo moderno não é mais que o reflexo deste conflito material na consciência, sua projecção ideal nas cabeças, a começar pelas da classe que sofre directamente suas conseqüências: a classe operária.


Em que consiste esse conflito?
Antes de sobrevir a produção capitalista, isto é, na Idade Média, dominava, com carácter geral, a pequena indústria, baseada na propriedade privada do trabalhador sobre seus meios de produção: no campo, a agricultura corria a cargo de pequenos lavradores, livres ou vassalos; nas cidades, a indústria achava-se em mãos dos artesãos. Os meios de trabalho - a terra, os instrumentos agrícolas, a oficina, as ferramentas - eram meios de trabalho individual, destinados únicamente ao uso individual e, portanto, forçosamente, mesquinhos, diminutos, limitados. - Mas isso mesmo levava a que pertencessem, em geral, ao próprio produtor. O papel histórico do modo capitalista de produção e do seu portador - a burguesia - consistiu precisamente em concentrar e desenvolver esses dispersos e mesquinhos meios de produção, transformando-os nas poderosas alavancas produtoras dos tempos actuais. Esse processo, que a burguesia vem desenvolvendo desde o século XV e que passa históricamente pelas três etapas da cooperação simples, a manufactura e a grande indústria, é minuciosamente exposto por Marx na seção quarta de O Capital. Mas a burguesia, como fica também demonstrado nessa obra, não podia converter aqueles primitivos meios de produção em poderosas forças produtivas sem transformá-los de meios individuais de produção em meios sociais, só manejáveis por uma coletividade de homens. A roca, O tear manual e o martelo do ferreiro foram substituídos pela máquina de fiar, pelo tear mecânico, pelo martelo movido a vapor; a oficina individual deu o lugar à fábrica, que impõe a cooperação de centenas e milhares de operários. E, com os meios de produção, transformou-se a própria produção, deixando de ser uma cadeia de actos individuais para converter-se numa cadeia de actos sociais, e os produtos transformaram-se de produtos individuais em produtos sociais. O fio, as telas, os artigos de metal que agora saíam da fábrica eram produto do trabalho colectivo de um grande número de operários, por cujas mãos tinha que passar sucessivamente para sua elaboração. Já ninguém podia dizer: isso foi feito por mim, esse produto é meu.


Mas onde a produção tem por forma principal um regime de divisão social do trabalho criado paulatinamente, por impulso elementar, sem sujeição a plano algum, a produção imprime aos produtos a forma de mercadoria, cuja troca, compra e venda permitem aos diferentes produtores individuais satisfazer suas diversas necessidades. E Isso era o que acontecia na Idade Média.


O camponês, por exemplo, vendia ao artesão os produtos da terra, comprando-lhe em troca os artigos elaborados na sua oficina. Nessa sociedade de produtores isolados, de produtores de mercadorias, veio a introduzir-se mais tarde o novo modo de produção. No meio daquela divisão elementar do trabalho, sem plano nem sistema, que imperava no seio de toda a sociedade, o novo modo de produção implantou a divisão planificada do trabalho dentro de cada fábrica; ao lado da produção individual surgiu a produção social. Os produtos de ambas eram vendidos no mesmo mercado e, portanto, a preços aproximadamente iguais. Mas a organização planificada podia mais que a divisão elementar do trabalho; as fábricas em que o trabalho estava organizado socialmente elaboravam seus produtos mais baratos que os pequenos produtores isolados. A produção individual foi pouco a pouco sucumbindo em todos os campos e a produção social revolucionou todo o antigo modo de produção. Contudo, esse carácter revolucionário passava despercebido; tão despercebido que, pelo contrário, se implantava com a única e exclusiva finalidade de aumentar e fomentar a produção de mercadorias. Nasceu directamente ligada a certos sectores de produção e troca de mercadorias que já vinham funcionando: o capital comercial, a indústria artesanal e o trabalho assalariado. E já que surgia como uma nova forma de produção de mercadorias, mantiveram-se em pleno vigor sob ela as formas de apropriação da produção de mercadorias.


Na produção de mercadorias, tal como se havia desenvolvido na Idade Média, não podia surgir o problema de a quem pertencer os produtos do trabalho. O produtor individual criava-os, geralmente, com matérias-primas de sua propriedade, produzidas não poucas vezes por ele mesmo, com seus próprios meios de trabalho e elaborados com seu próprio trabalho manual ou de sua família. Não necessitava, portanto, apropriar-se deles, pois já eram seus pelo simples facto de produzi-los. A propriedade dos produtos baseava-se, pois, no trabalho pessoal. E mesmo naqueles casos em que se empregava a ajuda alheia, esta era, em regra, acessória, e recebia frequentemente, além do salário, outra compensação: o aprendiz e o oficial das corporações não trabalhavam menos pelo salário e pela comida do que para aprender a chegar a ser mestres algum dia. Sobrevêm a concentração dos meios de produção em grandes oficinas e manufacturas, sua transformação em meios de produção realmente sociais. Entretanto, esses meios de produção e os seus produtos sociais foram considerados como se continuassem a ser o que eram antes: meios de produção e produtos individuais. E se até aqui o proprietário dos meios de trabalho se apropriara dos produtos, porque eram, geralmente, produtos seus e a ajuda constituía uma exceção, agora o proprietário dos meios de trabalho continuava apoderando-se do produto, embora já não fosse um produto seu, mas fruto exclusivo do trabalho alheio. Desse modo, os produtos, criados agora socialmente, não passavam a ser propriedade daqueles que haviam posto realmente em marcha os meios de produção e eram realmente seus criadores, mas do capitalista. Os meios de produção e a produção foram convertidos essencialmente em factores sociais. E, no entanto, viam-se submetidos a uma forma de apropriação que pressupõe a produção privada individual, isto é, aquela em que cada qual é dono do seu próprio produto e, como tal, comparece com ele no mercado. O modo de produção vê-se sujeito a essa forma de apropriação apesar de destruir o pressuposto sobre o qual repousa. Nessa contradição, que imprime ao novo modo de produção o seu carácter capitalista, encerra-se em germe, todo o conflito dos tempos atuais. E quanto mais o novo modo de produção se impõe e impera em todos os campos fundamentais da produção e em todos os países económicamente importantes, afastando a produção individual, salvo vestígios insignificantes, maior é a evidência com que se revela a incompatibilidade entre a produção social e a apropriação capitalista.


Os primeiros capitalistas já se encontraram, como ficou dito, com a forma do trabalho assalariado. Mas como excepção, como ocupação secundária, como simples ajuda, como ponto de transição. O lavrador que saía de quando em vez para ganhar uma diária, tinha os seus dois palmos de terra própria, graças às quais, em caso extremo, podia viver. Os regulamentos das corporações velavam para que os oficiais de hoje se convertessem amanhã em mestres. Mas, logo que os meios de produção adquiriram um carácter social e se concentraram em mãos dos capitalistas, as coisas mudaram. Os meios de produção e os produtos do pequeno produtor individual foram sendo cada vez mais depreciados, até que a esse pequeno produtor não ficou outro recurso senão ganhar um salário pago pelo capitalista. O trabalho assalariado, que era antes excepção e mera ajuda, passou a ser regra e forma fundamental de toda a produção, e o que era antes ocupação acessória converte-se em ocupação exclusiva do operário. O operário assalariado temporário transformou-se em operário assalariado para toda a vida. Além disso, a multidão desses para sempre assalariados vê-se engrossada em proporções gigantescas pela derrocada simultânea da ordem feudal, pela dissolução das mesnadas dos senhores feudais, a expulsão dos camponeses de suas terras, etc..


Realizara-se o completo divórcio entre os meios de produção concentrados nas mãos dos capitalistas, de um lado, e, de outro lado, os produtores que nada possuíam além da sua própria força de trabalho. A contradição entre a produção social e a apropriação capitalista reveste a forma de antagonismo entre o proletariado e a burguesia.


Vimos que o modo de produção capitalista introduziu-se numa sociedade de produtores de mercadorias, de produtores individuais, cujo vinculo social era o intercâmbio dos seus produtos. Mas toda a sociedade baseada na produção de mercadorias apresenta a particularidade de que nela os produtores perdem o comando sobre as suas próprias relações sociais. Cada qual produz para si, com os meios de produção de que consegue dispor, e para as necessidades de seu intercâmbio privado. Ninguém sabe qual a quantidade de artigos do mesmo tipo que os demais lançam no mercado, nem da quantidade que o mercado necessita; ninguém sabe se o seu produto individual corresponde a uma procura efectiva, nem se poderá cobrir os gastos, nem sequer, em geral, se poderá vendê-lo. A anarquia impera na produção social. Mas a produção de mercadorias tem, como toda forma de produção, suas leis características, próprias e inseparáveis dela; e essas leis abrem caminho apesar da anarquia, na própria anarquia e através dela. Tomam corpo na única forma de enlace social que subsiste: na troca, e impõem-se aos produtores individuais sob a forma das leis imperativas da concorrência.


A principio, esses produtores ignoram-nas, e é preciso que uma larga experiência as vá revelando, pouco a pouco. Impõem-se, pois, sem os produtores, e mesmo contra eles, como leis naturais cegas que presidem essa forma de produção.


O produto impera sobre o produtor.
Na sociedade medieval, e sobretudo nos seus primeiros séculos, a produção destinava-se principalmente ao consumo próprio, a satisfazer apenas às necessidades do produtor e sua família. E onde, como acontecia no campo, subsistiam relações pessoais de vassalagem, contribuía também para satisfazer às necessidades do senhor feudal. Não se produzia, pois, nenhuma troca, nem os produtos revestiam, portanto, o carácter de mercadorias. A família do lavrador produzia quase todos os objectos de que necessitava: utensílios, roupas e viveres. Só começou a produzir mercadorias quando começou a criar um excedente de produtos, depois de cobrir as suas próprias necessidades e os tributos em espécie que devia pagar ao senhor feudal; esse excedente, lançado no intercâmbio social, no mercado, para venda, converteu-se em mercadoria. Os artesãos das cidades, por certo, tiveram que produzir para o mercado desde o primeiro momento. Mas também elaboravam eles próprios a maior parte dos produtos de que necessitavam para seu consumo; tinham as suas hortas e os seus pequenos campos, apascentavam o seu gado nos campos comunais, que lhes forneciam também madeira e lenha; suas mulheres fiavam o linho e a lã, etc. A produção para a troca, a produção de mercadorias, achava-se em seu início. Por isso o intercâmbio era limitado, o mercado era reduzido, o modo de produção era estável. Em face do exterior imperava o exclusivismo local; no interior, a associação local: a Marca no campo, as corporações nas cidades.


Mas ao estender-se a produção de mercadorias e, sobretudo, ao aparecer o modo capitalista de produção, as leis da produção de mercadorias, que até aqui haviam apenas dado sinais de vida, passam a funcionar de maneira aberta e poderosa. As antigas associações começam a perder força, as antigas fronteiras vão caindo por terra, os produtores vão-se convertendo mais e mais em produtores de mercadorias independentes e isolados. A anarquia da produção social sai à luz e aguça-se cada vez mais. Mas o instrumento principal com que o modo de produção capitalista fomenta essa anarquia na produção social é precisamente o inverso da anarquia: a crescente organização da produção com carácter social, dentro de cada estabelecimento de produção. Por esse meio, põe fim à velha estabilidade pacífica. Onde se implanta num ramo industrial, não tolera a seu lado nenhum dos velhos métodos. Onde se apodera da indústria artesanal, destrói-a e aniquila-a. O terreno de trabalho transforma-se num campo de batalha. As grandes descobertas geográficas e as empresas de colonização que as acompanham multiplicam os mercados e aceleram o processo de transformação da oficina do artesão em manufactura. E a luta não eclode sómente entre os produtores locais isolados; as contendas locais não adquirem envergadura nacional, e surgem as guerras comerciais dos séculos XVII e XVIII. Até que, por fim, a grande indústria e a implantação do mercado mundial dão carácter universal à luta, ao mesmo tempo que lhe imprimem uma inaudita violência. Tanto entre os capitalistas individuais como entre industriais e países inteiros, a primazia das condições - natural ou artificialmente criadas - da produção decide a luta pela existência. O que sucumbe é esmagado sem piedade. É a luta darwinista da existência individual transplantada, com redobrada fúria, da natureza para a sociedade. As condições naturais de vida da besta convertem-se no ponto culminante do desenvolvimento humano. A contradição entre a produção social e a apropriação capitalista manifesta-se agora como antagonismo entre a organização da produção dentro de cada fábrica e a anarquia da produção no seio de toda a sociedade.


O modo capitalista de produção move-se nessas duas formas da contradição a ele inerente por suas próprias origens, descrevendo sem apelação aquele «círculo vicioso» já revelado por Fourier.


Mas o que Fourier não podia ver ainda em sua época é que esse círculo se vai reduzindo gradualmente, que o movimento se desenvolve em espiral e tem de chegar necessariamente ao seu fim, como o movimento dos planetas, chocando-se com o centro. É a força propulsora da anarquia social da produção que converte a imensa maioria dos homens, cada vez mais marcadamente, em proletários, e essas massas proletárias serão, por sua vez, as que, afinal, porão fim à anarquia da produção É a força propulsora da anarquia social da produção que converte a capacidade infinita de aperfeiçoamento das máquinas num preceito imperativo, que obriga todo o capitalista industrial a melhorar continuamente a sua maquinaria, sob pena de perecer. Mas melhorar a maquinaria equivale a tornar supérflua uma massa de trabalho humano. E assim como a implantação e o aumento quantitativo da maquinaria trouxeram consigo a substituição de milhões de operários manuais por um número reduzido de operários mecânicos, seu aperfeiçoamento determina a eliminação de um número cada vez maior de operários das máquinas e, em última instância, a criação de uma massa de operários disponíveis que ultrapassa a necessidade média de ocupação do capital, de um verdadeiro exército industrial de reserva, como eu já o chamara em 1845, de um exército de trabalhadores disponíveis para as épocas em que a indústria trabalha a pleno vapor e que logo nas crises que sobrevêm necessariamente depois desses períodos, é lançado às ruas, constituindo a todo momento uma grilheta amarrada aos pés da classe trabalhadora na sua luta pela existência contra o capital e um regulador para manter os salários no nível baixo correspondente às necessidades do capitalista. Assim, para o dizêr com Marx, a maquinaria converteu-se na mais poderosa arma do capital contra a classe operária, um meio de trabalho que arranca constantemente os meios de vida das mãos do operário, acontecendo que o produto do próprio operário passa a ser o instrumento da sua escravização. Deste modo, a economia nos meios de trabalho leva consigo, desde o primeiro momento, o mais impiedoso desperdício da força de trabalho e a espoliação das condições normais da função mesma do trabalho. E a maquinaria, o recurso mais poderoso que se pôde criar para reduzir a jornada de trabalho, converte-se no mais infalível recurso para converter a vida inteira do operário e da sua família numa grande jornada disponível para a valorização do capital; ocorre, assim, que o excesso de trabalho de uns é a condição determinante da carência de trabalho de outros, e que a grande indústria, lançando-se pelo mundo inteiro, em desabalada carreira, à conquista de novos consumidores, reduz na sua própria casa o consumo das massas a um mínimo de fome e mina com isso o seu próprio mercado interno. « A lei que mantém constantemente o excesso relativo de população ou exército industrial de reserva em equilíbrio com o volume e a intensidade da acumulação do capital amarra o operário ao capital com ataduras mais fortes do que as cunhas com que Vulcano cravou Prometeu no rochedo. Isso dá origem a que a acumulação do capital corresponda a uma acumulação igual de miséria. A acumulação de riqueza em um dos polos determina no polo oposto, no polo da classe que produz o seu próprio produto como capital, uma acumulação igual de miséria, de tormentos de trabalho, de escravidão, de ignorância, de embrutecimento e de degradação moral." (Marx, O Capital, t. 1, cap. XXIII) E esperar do modo capitalista de produção uma distribuição diferente dos produtos seria o mesmo que esperar que os dois electrodos de uma bateria, enquanto conectados com ela, não decomponham a água nem engendrem oxigênio no polo positivo e hidrogênio no polo negativo.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Ouvem-se mais alto os tambores de guerra e o sinal é mais claro !


A partir de 1945, os EUA já tentaram derrubar pelo menos 50 governos estrangeiros – incluída a última tentativa, em curso, de derrubar o governo eleito do Irão. Essa vergonhosa estatística não é resultado apenas de má política externa; quando o presidente Obama assinou a decisão e converteu em lei, dia 1/7/2010, as sanções contra o Irão, não cometeu erro de desatenção, nem errou por descuido. A política externa dos EUA pode ser comparada à ação de um assassino serial.Estrangulamento econômico e agressão militar contra o Irão.

As sanções agem em silêncio, mas são terrivelmente mortíferas. Matam combatentes e não-combatentes indiscriminadamente e covardemente. Basta ver as sanções que os EUA impuseram ao Iraque: o pesquisador Richard Garfield estima que “pelo menos 100 mil ou, em avaliação mais rigorosa, mais de 220 mil recém-nascidos e bebês morreram, no Iraque, entre agosto de 1991 e março de 1998, por causas motivadas ou diretamente relacionadas às sanções econômicas”.

O governo Obama divulgou as sanções econômicas dos EUA contra o Irão como se fossem medidas “pacíficas” – tentativa pacífica de asfixiar a economia iraniana, cujo único objetivo era tentar pacificamente paralisar o país. Não bastasse, no final de junho cerca de uma dúzia de navios de guerra dos EUA e pelo menos uma corveta israelense cruzaram o Canal de Suez seguidas de três esquadras navais – em ato flagrante de provocação e tentativa de intimidação, que veio coordenado com agressiva retórica imperialista. Dia 1º de agosto, o almirante Mike Mullen – chefe do Estado-maior do exército dos EUA, disse que os EUA têm planos prontos para atacar o Irão. Falando no domingo ao programa “Meet the Press” da rede NBC, Mullen disse que “as opções militares estavam sobre a mesa e continuam sobre a mesa. Espero que não cheguemos até lá, mas é opção importante e é opção já bem compreendida”.

Grande número de jornalistas, dos mais bem qualificados aos inqualificáveis, têm-se dedicado a converter a Resolução n. 1.553 da Câmara de Deputados dos EUA, em petulante brincadeira de desocupados; convertendo o que bem poderia ser uma avalanche de repúdio nascida da opinião pública norte-americana, em retórica a mais oca, para assim suavizar o que jamais deixou de ser manobra política de alto conteúdo tóxico.

O corpo de jornalistas-correspondentes dos grandes jornais já nem falam do número de baixas na população civil, na pobreza e na subpobreza em que naufragam os territórios palestinos ocupados pela entidade sionista ou da grotesca cumplicidade entre regimes ocidentais. Nada disso. A cobertura que a imprensa, jornais e televisão, oferece da invasão, nos dois casos, tanto no Iraque quanto no Afeganistão, começou com algum alarido e rapidamente se converteu em sussurro, para só reaparecer, sempre tímida, quando clamam aos céus as cinzas de grande número de mortos ou acontece algum aniversário ‘histórico’ sem importância alguma.
Se, ou quando, o Irão for militarmente agredido, não será diferente.

A CÃMARA DE DEPUTADOS DOS E.U.A. "EXIGE" GUERRA.

A Resolução 1.553 da Câmara de Deputados dos EUA não finge nem tenta fingir que ‘anseia’ por alguma paz. Sua razão de ser vem explícita, jogada à cara do mundo:“Expressamos integral apoio ao direito do Estado de Israel (…) de usar todos os meios necessários para enfrentar e eliminar a ameaça que vem da República Islâmica do Irão, inclusive o direito de usar força militar.”

Os deputados Republicanos dos EUA deram carta branca a Israel, hoje envenenada e que pode, em breve, estar também encharcada de sangue; o Estado sionista recebeu luz verde e os deputados dos EUA lhes gritam “Abrir fogo!”

Independente do que o conjunto hoje hegemônico de pseudo-intelectuais e políticos queira fazer-crer ao mundo, Israel não tem qualquer preocupação com a opinião pública, sempre que se trata de agir ao arrepio da lei internacional e de qualquer lei. Incontáveis vezes, sempre e sempre, Israel já deu provas de que sua agenda está acima de qualquer lei, e ninguém, até hoje, conseguiu levar o regime sionista às barras de algum tribunal, ou obrigá-lo a prestar contas de uma lista-de-lavanderia de crimes de guerra contra o povo palestino e o povo libanês. Israel não é Estado de Direito e jamais obedeceu a lei alguma, sempre em conluio com seu parceiro de crimes, os EUA.

AS FORÇAS DE OCUPAÇÃO ISRAELENSES JÁ TREINAM PARA ATACAR O IRÃO

Dia 30 de julho, a mídia em Israel noticiou que as Forças de Ocupação Israelenses estavam em “treinamento militar na Romênia, em terreno montanhoso e de cavernas, semelhante aos túneis de montanha nos quais o Irão enterrou suas instalações nucleares. Seis aviadores israelenses morreram em acidente com um helicóptero Sikorsky “Yasour” CH-53 nas montanhas dos Cárpatos romenos, na 2ª-feira, 26/7. O acidente ocorreu na fase final de exercício conjunto de três exércitos, EUA-Israel-Romênia[1], em que se simulava um ataque ao Irão”.

A rede PressTV libanesa noticiou, dia 1º/8, que Israel ameaça abertamente bombardear as instalações nucleares iranianas há anos, mas “a probabilidade de ataque desse tipo aumentou significativamente, dada a crescente impaciência de Telavive com as sanções do Conselho de Segurança da ONU e dos EUA e outras medidas assemelhadas adotadas unilateralmente pelos EUA e pela União Europeia, que até agora não apresentaram o resultado esperado de alterar a posição de Teerã, de defender seu programa nuclear para fins pacíficos.”

OUVEM-SE MAIS ALTO OS TAMBORES DE GUERRA E O SINAL É MAIS CLARO.

Senadores dos EUA declararam, em uníssono, que as sanções contra o Irão não impedIrãoo a República Islâmica de perseverar em suas “ambições nucleares” – em termos que leigos entendam: os políticos norte-americanos ‘exigem’ que o Irão pare de fazer o que o Irão já declarou incontáveis vezes que não está fazendo. Se o Irão não parar de fazer o que não está fazendo (i.e. fabricando bombas atômicas etc.), haverá consequências, incluído aí um cenário de Apocalipse, que interessa muito, é claro, a Israel.

Do senador dos EUA Joseph Lieberman, “Bombardeiem o Irão”:“Considero profundamente importante que a liderança iraniana fanática entenda que falamos muito sério sobre o programa de bombas atômicas deles, e se dizemos que não aceitamos que o Irão se torne nuclear, não aceitamos e não aceitaremos – e podemos e faremos qualquer coisa para impedir que o Irão se torne nuclear.

Depois virão as sanções, sanções violentas, sanções econômicas. Francamente, é a última chance que damos ao Irão de pouparem o mundo inteiro, inclusive os EUA, de terem de tomar uma dura decisão entre permitir um Irão nuclear e usar nosso poder militar para impedir que continuem nucleares.”

Do senador dos EUA Evan Bayh:“Temos de considerar a opção final, o uso da força para impedir o Irão de construir uma arma nuclear.”

De Leon Panetta, diretor da CIA:“Acho que as sanções terão algum impacto (…) Mas afastarão o Irão de suas ambições de alcançar capacidade nuclear? Provavelmente, não.”

Na reunião do G8, em julho, o presidente Obama declarou que o Irão teria prazo até setembro para aceitar as propostas internacionais que visam a impedir que a República Islâmica desenvolva armas nucleares. Setembro é o prazo final.

Os EUA não agirão sozinhos em guerra contra o Irão, nem nada leva a crer que os EUA declararão guerra ao Irão. Israel, que já provou sobejamente apoio integral ao terrorismo imperialista terá a tarefa de acender o pavio. Afinal de contas, quem impedirá a entidade sionista ilegal de fazer no Irão o que já fez no Líbano e em Gaza e faz em cada precioso palmo da terra palestina ocupada?

O Irão já se manifestou claramente, sem meias palavras, como tantas outras vezes. O embaixador do Irão à ONU, Mohammad Khazai, já disse que “se o regime sionista cometer qualquer agressão em território do Irão, incendiaremos todo o front dessa guerra que eles inventaram, e Telavive arderá.”

Setembro está perto e logo saberemos se Israel e EUA cumprIrãoo, ou não, suas muitas ameaças. Todas as guerras provocadas por Israel ao longo de sua história de perversidades foram guerra de agressão ditas ‘preventivas’. O tempo dirá se tentarão acrescentar o Irão, como mais uma marca em pistola de matador. Se tentarem, saberão: foi a última vez.

Este texto foi publicado no web site da Al-ManarTV de Beirute, Libanowww.almanar.com.lb/NewsSite/NewsDetails.aspx?id=148986&language=en
Tradução de Caia Fittipaldi

domingo, 8 de agosto de 2010

Dias Lourenço - O dirigente operário, que podia ter sido um revolucionário de corpo inteiro.


Podia ter sido um revolucionário de corpo inteiro, se mantive-se a sua postura politica revolucionária inicial de condenação das politicas revisionistas e de ataque à figura de Staline, encabeçadas por N.Khrusthciev.

Mas a partir de 1962, por motivo da sua fraca formação ideológica marxista-léninista, aos poucos foi perdendo a sua vigilância revolucionária, acabando por aderir às teses contra revolucionárias e anti-proletárias da transformação pacífica do capitalismo para o socialismo, elaboradas por A.Cunhal (não é bem verdade, porque todos os partidos à escala mundial práticamente as adoptaram) e constituídas no famoso programa da "Revolução Democrática e Nacional" que limitava a luta do proletariado português ao derrube da ditadura fascista e há conquista da "democracia" parlamentar burguesa. Programa que ainda hoje se mantêm, apesar de todos os desenvolvimentos sofridos pelas estruturas económicas capitalistas e pelas próprias classes sociais, bem como pelos prejuízos causados à luta do proletariado contra o capitalismo.

Aliás o mesmo aconteceu a muitos milhares de operários revolucionários no mundo inteiro, que pelos mesmos motivos não tiveram capacidade para resistir. A degenerescência do M.C.I. (Movimento Comunista Internacional) e a destruição posterior do campo socialista, em particular o retorno do capitalismo à Russia são bem a prova disto mesmo.

Só esperemos que os actuais militantes proletários revolucionários e principalmente os jovens quadros, aprendam com os erros e traições que se cometeram no passado ainda bem recente e estejam à altura das enormes responsabilidades que hoje lhes estão colocadas e lutem pela reorganização do movimento comunista nacional e internacional e dotem os seus proletariados de verdadeiros partidos revolucionários de vanguarda.

No entanto pelo seu passado de luta revolucionária, enviamos as nossas condolências aos seus familiares e a todos quanto com ele confraternizaram.

sábado, 7 de agosto de 2010

Stáline - Contra a vontade da população de Gori



Em todo o mundo anuncia-se a retirada da estátua de Stáline da Praça central de Gori, na Geórgia, terra natal do dirigente Soviético. Mas, nem em todo o mundo se conta como essa operação foi feita.
A operação foi feita secretamente, pela madrugada, com a Praça Stáline cercada por forças policiais, com as autoridades a temerem a reacção adversa da população a uma medida que já anteriormente havia sido contestada e impedida.
Desta vez, a estátua foi mesmo retirada e transferida para o Museu José Stáline, a algumas centenas de metros da referida praça, como se pode ler nesta notícia.